segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sem porquês!

Hoje as crianças voltaram. Sim, acabou o sossego. Hoje é segunda-feira e eu já estou cansada. Contudo, mesmo sem sossego, a minha paz voltou. Contraditório, né?! rs...


Eles não têm a menor noção de direção, mas logo cedo estavam me esperando na vaga onde costumo estacionar, porque queriam me ajudar (tipo flanelinha, sacou?!). Pra esquerda, pra direita... Vai! Para não desanimá-los, dei trela. Fiz tudo o que mandaram, mesmo sabendo que eu tinha que virar o volante pra direção contrária. Direita e esquerda nessa idade ainda é um enigma!


Terminado o serviço, desci do carro. Graças a eles, eu havia conseguido estacionar! Mal abri a porta e três já pularam no meu pescoço.
Um "quarto elemento" ficou sem graça, de longe, esperando um espaço no meu abraço, tendo sido concedido, claro, assim que consegui colocar a coluna no lugar, depois de tantos beijos e pulos em cima de mim!


Mããããããe!
É assim que me chamam desde que a Viviane me escreveu aquele bilhete. A Viviane era uma de nossas crianças. Ela ficava me olhando de longe, com olhos de curiosidade e admiração. Tinha 13 anos, mas não sabia escrever. Reconheci seu esforço quando me entregou um papel amassado escrito por repetidas vezes: posso te chamar de mãe?!


Há um protocolo seguido diariamente. Abraços, beijos, cartinhas, florzinhas murchas que eles apanham pelo caminho, brinco da mãe, bonequinha de porcelana... O que eles querem é agradar. É tanto amor!


Do ponto de vista poético, eu jamais saberia definir o que sinto quando estou no meio deles. Me sinto uma deles, me sinto mãe deles, me sinto responsável pela felicidade deles.


Pelas leis do mundo, a vida dessas crianças costuma ser cruel. Suas experiências são sempre duras e a fome, funda. O destino definitivamente não é belo com eles.


Tenho um papel fundamental na construção de valores dessas crianças, mas acho que desde que me sujeitei a trabalhar com isso, quem mais cresceu e ganhou fui eu.
Não sei ao certo quem é que depende de quem nessa história. Se são eles que dependem dos meus cuidados ou se sou eu que dependo de tanto carinho dessas crianças. Sei lá. O que importa é que eles estão alí, prontos para me ensinar o orgulho de tê-los, com a humildade que só eles podem me dar.

Mas vem cá, por que é que eu comecei a falar sobre isso mesmo?!

2 comentários:

  1. Normalmente quem trabalha com crianças não tem o trabalho reconhecido, a não ser pelas próprias, com essa demonstração de carinho. Eu não recebia esse carinho das crianças que treinava, mas me sentia muito orgulhoso de, no final do ano, perceber a evolução daquele menininho que no começo do ano mal sabia correr. Ou então os meninos que começaram treinando comigo aos 7 anos, serem campeões do Paraná apenas 2 anos depois.

    Bruna, adoro seu blog porque ele é muito bem escrito e gostoso de ler. To sempre esperando o próximo post. hehehe

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  2. Acredito que para ensinar as crianças, sempre que possível, deve-se ter atitudes semelhantes às relatadas neste texto.
    A lição aprendida com o carro estacionado, não foi tão importante quanto a mensagem transmitida nas diversas vezes em que a manobra foi executada, pois só conseguimos superar os obstáculos com esforço, dedicação e paciência.
    Lições como estas são muito mais positivas do que a pronuncia repetida do “NÃO”, sobre tudo para estas crianças que tem no seu cotidiano o enfrentamento de situações criticas.
    Parabéns pelo blog e pelas atitudes junto a estes pequenos.

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