domingo, 20 de fevereiro de 2011

Dê uma chance ao ser humano!

O Max é um menino levado. Ponto.
Mas não pensem vocês que ele é danadinho. Nãããão! Ele é um grande X nas nossas cabeças. Um X maior que o X da Nave da Xuxa, que de egocêntrica tem quase nada!
O Max é assim, desde que o conheço, há quase dois anos, ouço histórias que (quase) não cabem no meu nível de compreensão. Serei mais específica!
Ele já amarrou uma corda do pescoço ao rabo do cachorro. Ele já fugiu com a irmã mais nova, que tinha câncer, apenas para que ela não fosse à quimioterapia. Ele, inclusive, já jogou os remédios dela fora. Sim!

Mas essa semana, algo me surpreendeu. Recebemos o José.
O José é um garotinho de 13 anos, muito sorridente. Teve paralisia infantil e tem alguns dos seus movimentos comprometidos. Mas isso não faz do José um coitado. Ele faz tudo o que uma criança da idade dele faz, claro, dentro dos seus limites. 
Mas o que eu acho mesmo é que o José é um sortudo. Um sortudo muito dos fortes. Ele encontrou o Max. Ou foi o Max que o encontrou?!
A verdade é que meus olhos têm vivenciado a verdadeira amizade. Livre de qualquer preconceito ou interesse. O Max, aquele menino levado, tem sido o fiel parceiro do José. Leva para beber água, acompanha ao banheiro, ajuda a dar comida na boca, o auxilia nas atividades e, pasmem, banca o fisioterapeuta, porque já percebeu que o lado esquerdo do José é mais lento. Tudo de livre e espontânea vontade. Ninguém pediu ou sugeriu.
Percebo nos olhos do José a gratidão pela amizade do Max. E nos olhos do Max eu vejo a sinceridade. Pela primeira vez.
Dê uma chance ao ser humano!

  

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Cavalheirismo contemporâneo

Existe uma palavra que eu gosto muito: sutileza. A sonoridade é leve e o significado também. E ela casa perfeitamente com outra palavra de significado especial, gentileza.


Há quem confunda. A sutileza é discreta. Já a gentileza fala por si só. E há de se considerar, ambas traduzem a delicadeza de um gesto. E é sobre essa relação que discorro a brunisse de hoje.


Não vejo razão em não demonstrar a minha satisfação publicamente. Entre as coisas que me surpreendem, está a capacidade que alguns homens ainda têm de ser cavalheiros, cada qual ao seu modo, gesto e graça!
Incontestável a satisfação quando um representante dessa espécie se atenta aos meus detalhes e solta um comentário despretensioso sobre a cor do esmalte, a pedrinha do brinco ou sobre o acessório no meu cabelo. É coisa rara, eu sei sobre a dificuldade que vocês têm de perceber o pequeno, o minuncioso, o peculiar, ainda mais quando naturalmente vocês têm maior propensão ao daltonismo e ao pragmatismo. Mas sim, me encho por dentro quando isso acontece!

E não pensem que não sei diferenciar um gesto sincero de segundas intenções. Deus me deu o dom preciosíssimo de perceber a essência das pessoas. E claro, se alguém é flagrado dando uma de espertinho pra cima de mim, perde muitos pontos!  

Continuando, são adoráveis aqueles que fazem questão de ser prestativos. Se sentem heróis quando alcançam alguma coisa no alto, trocam a lâmpada ou carregam uma mala pesada pra gente. E quando abrem a porta do carro?! Quanta nobreza!
Juro que morro de dó de abusar da boa vontade. Sei o quanto esses serviços são desconfortáveis, mas é tão bom ter a sensação de que alguém quer me poupar da fadiga ou de qualquer perigo, que eu me entrego aos cuidados. 

Porém, diante de todos esses gestos e delicadezas, percebo que eles têm um certo receio quanto ao cavalheirismo contemporâneo (essa foi boa!) e ficam apreensivos diante da nossa reação - afinal isso é tão raro que a gente já nem sabe como se comportar perante tanta gentileza. 

Entretanto, é aceitável que eles fiquem inseguros assim.
Não faz muito tempo, os homens perderam a postura de nossos protetores. Isso porque nós, mulheres, nos escondemos por trás de uma carcaça de feminismo exacerbado e de auto-suficiência, deixando sobrar pouco espaço pra eles, senão o da companhia de sábado à noite (que fique claro que eu não faço parte desse time!).

O resultado disso são pessoas sozinhas fugindo de relações que despendam muito mais que uma noite agradável. Mas isso é assunto pra outro dia...

Que me perdoem os grosseiros, machistas e moderninhos, mas a cortesia à moda antiga ainda me fascina. Um brinde aos homens de sensibilidade!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Meu mundo de Bobby!

        Hoje eu lembrei dele. Me deu uma sensação tão triste. Saudade misturada com perda.
        Sim, ví algo que me fez lembrar. Não há como evitar a dor. Já faz um tempo que ele foi embora, mas não raramente me perturba a lembrança...

        Tô falando do Peixe – e depois explico o porquê da letra maiúscula!
         Jamais vou me esquecer de quando o ganhei. O Gordo, meu irmão de coração, que de gordo não tinha nada,  trouxe de um circo que havia ido no final de semana.
        Amarrou um barbante no meu pulso, que era pra ele não levantar vôo. O Peixe era um balão de gás cor de rosa e claro, em formato de peixe. Daí o seu nome tão óbvio com letra maiúscula. 

        Pois bem. Quando eu era pequena, cuidava dos meus brinquedos com todo zelo. Zelo que nunca ví em outra criança (e de crianças, eu até que entendo um pouco!). O Peixe ficava solto no meu quarto, obviamente sobrevoando o ambiente. Ficou lá por muito tempo. Sem murchar, sem reclamar.

        Um dia, quando cheguei da escola, dei falta do Peixe. Ele não estava lá. Mistééééério!
        Meu pai, com ar de cinismo, disse que não sabia o que havia acontecido com o Peixe. Ele nunca me enganou. Eu sei que foi ele que deu fim no Peixe. Fim este que criei na minha cabeça, para que o Peixe não fosse “enterrado” no cemitério dos balões de gás indigentes.
        Imaginei o Peixe indo embora pro céu, voando, voando, voando até sumir da vista. E voando tão alto que alcançava o céu dos balões. E lá no céu dos balões, havia um Homem (com H maiúsculo, porque ele era uma espécie de deus no paraíso das bexigas rebeldes). Este Homem, com h maiúsculo, recolhia todos os balões voadores aflitos e perdidos e os abrigava em sua tremenda casa de madeira (sempre imagino casas de madeira, a do Papai Noel também é), onde viviam felizes e bem cuidados os balões coloridos, em seus diversos tamanhos e formatos.
        Na minha cabeça, vinha a nítida imagem do Peixe chegando ao céu dos balões, um pouco tímido, voando meio baixo, como quem não queria nada e sendo recolhido por um cara bem branco, tão branco que a pele chegava a ser avermelhada.
        Imaginar tudo isso me dava vontade de chorar. E eu chorava. Chorei por dias seguidos a partida do Peixe.

        Hoje pela manhã passou por aqui um vendedor de balões. Tinha um parente do Peixe lá no meio. Me lembrei dessa história.
        Minha infância é recheada de histórias assim, vindas do mundo de Bobby. Feliz de mim! rs...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Sem porquês!

Hoje as crianças voltaram. Sim, acabou o sossego. Hoje é segunda-feira e eu já estou cansada. Contudo, mesmo sem sossego, a minha paz voltou. Contraditório, né?! rs...


Eles não têm a menor noção de direção, mas logo cedo estavam me esperando na vaga onde costumo estacionar, porque queriam me ajudar (tipo flanelinha, sacou?!). Pra esquerda, pra direita... Vai! Para não desanimá-los, dei trela. Fiz tudo o que mandaram, mesmo sabendo que eu tinha que virar o volante pra direção contrária. Direita e esquerda nessa idade ainda é um enigma!


Terminado o serviço, desci do carro. Graças a eles, eu havia conseguido estacionar! Mal abri a porta e três já pularam no meu pescoço.
Um "quarto elemento" ficou sem graça, de longe, esperando um espaço no meu abraço, tendo sido concedido, claro, assim que consegui colocar a coluna no lugar, depois de tantos beijos e pulos em cima de mim!


Mããããããe!
É assim que me chamam desde que a Viviane me escreveu aquele bilhete. A Viviane era uma de nossas crianças. Ela ficava me olhando de longe, com olhos de curiosidade e admiração. Tinha 13 anos, mas não sabia escrever. Reconheci seu esforço quando me entregou um papel amassado escrito por repetidas vezes: posso te chamar de mãe?!


Há um protocolo seguido diariamente. Abraços, beijos, cartinhas, florzinhas murchas que eles apanham pelo caminho, brinco da mãe, bonequinha de porcelana... O que eles querem é agradar. É tanto amor!


Do ponto de vista poético, eu jamais saberia definir o que sinto quando estou no meio deles. Me sinto uma deles, me sinto mãe deles, me sinto responsável pela felicidade deles.


Pelas leis do mundo, a vida dessas crianças costuma ser cruel. Suas experiências são sempre duras e a fome, funda. O destino definitivamente não é belo com eles.


Tenho um papel fundamental na construção de valores dessas crianças, mas acho que desde que me sujeitei a trabalhar com isso, quem mais cresceu e ganhou fui eu.
Não sei ao certo quem é que depende de quem nessa história. Se são eles que dependem dos meus cuidados ou se sou eu que dependo de tanto carinho dessas crianças. Sei lá. O que importa é que eles estão alí, prontos para me ensinar o orgulho de tê-los, com a humildade que só eles podem me dar.

Mas vem cá, por que é que eu comecei a falar sobre isso mesmo?!