terça-feira, 9 de novembro de 2010

Minhas redomas

É estranho como lido com as lembranças.
Quando passo por algum lugar sinto que deixo um pedaço de mim por lá. Eu paro e imagino que aquela Bruna, daquela viagem, daquele momento, com aquela roupa e com aquele cheiro, ficou lá. Presa naquele momento. 
É, eu sei que a gente não fica preso na redoma da lembrança. Mas eu me sinto assim.
Aliás, me sinto presa em várias redomas. Não sei se isso é bom ou ruim. Pra ser sincera, não acho muito saudável. Tendência à melancolia?! Pode ser. Mas em algumas prisões, eu bem gosto de estar.
É como se eu eternizasse meus momentos na memória. E guardo tudo com muita intensidade. E as lembranças passam a não existir somente naquele pedacinho do cérebro. Elas se instalam no coração. Têm cheiro. Gosto. Trilha sonora. E não raramente doem.

O ano é 90. E a redoma em que estou é a casa da minha madrinha. É começo de noite. Estamos tomando café e o meu padrinho está fazendo o requeijão caseiro que eu tanto amo. Meu padrinho é quem me cuida e quem me faz conhecer a verdadeira sensação de ter um pai. Ele é demais. 
Ouço uma movimentação na rua e quando olho pela janela, percebo que há um motoqueiro caído na rua. O Bony, o cachorro de todos nós, o fez cair. O Bony tem um cheiro peculiar - cachorro molhado!

Mas não habito em apenas uma redoma. Tem a redoma do Natal de 94, ouvindo Perhaps Love no comercial da Sadia. Tem a redoma da hora do café na casa da minha avó e aquele cheiro de leite fervido. Redoma das brincadeiras de rua, das paixões antigas, dos medos, das perdas, dos ganhos, das viagens...

Minha redoma mais recente se chama Curitiba. Tô presa lá também. Presa nas sensações que senti. Presa no jazz que ouvi daquele paraense maconheiro que me chamou de nova iorquina. E presa no gosto da batata rosti. Presa na linha do trem. Presa no hotel. Na Opera de Arame e no cheiro da casa de artesanatos. Tô presa no Jardim Botânico e no Jardim das Sensações. Tô presa naquele fim de tarde, vendo o pôr do sol do céu. 

Materializo o que já passou nas texturas e cheiros que recobrem minha memória. Ao fim desse post, percebo uma coisa: quanta sinestesia!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eu, confusa.

Eu nunca soube o que queria ser quando crescer. Cresci e ainda não sei. E essa é uma verdade que me incomoda muito.
Tenho a minha profissão, mas não sei... Ainda não é isso!
Tive medo de fazer algumas escolhas, quando era tempo de escolher. Coragem eu só tive para tomar as decisões erradas. E essas sim foram acertivas!

Sempre fui conduzida. Conduzida principalmente pela Bruna da vez. Porque há em mim uma infinidade delas.   
Me divido do leve amargor ao frescor. Sou cítrica, sou amarga, sou azeda, sou doce, sou madeira, sou pimenta. É assim que me defino. Uma mistura complexa de cores e sabores, que variam de acordo com tudo a minha volta. Nada a ver com pentapolaridade. Muito mais conexo com mente liberta.

Eu fiz algumas escolhas das quais me arrependo. Me arrependo, mas não deveria, afinal hoje elas funcionam como parâmetros. Sei bem o que não quero e irremediavelmente fujo do que repele as minhas convicções.

O que falei até aqui, serviu de introdução para a razão desse post. Há pouco tempo, fiz uma escolha. Uma escolha insana - que na época, não parecia ser. Essa escolha exigiu tempo, renúncias e alguns gastos. E eu segui o protocolo direitinho. Ok, daqui a pouco continuo essa história.

Outro dia fui ao cabeleireiro. Sentei naquela cadeirinha mágica (aquela em que a gente senta morena e levanta platinada) e disse que o que eu queria fazer nas madeixas. E foi alí que tudo mudou. Nããããão, não falo sobre a cor do meu cabelo, tampouco da textura dele. Falo da Bruna que existe em mim! rs...

O cabeleireiro, ousadinho, disse que eu não precisava mudar meu visual. O que eu realmente precisava de orientação. Orientação?! Como assim?! Esse cara nem me conhece, só estive aqui uma vez! 
Fiz cara de qualquer coisa, mas deixei o bicudo continuar. Adoro ouvir as pessoas. Mesmo quando o que elas têm pra dizer sejam críticas sobre mim mesma. Oh! E isso é bem difícil! rs... 

E ele continuou. Disse que minha última escolha (aquela que eu reservei pra contar mais tarde) não tinha nada a ver comigo, que eu estava fugindo de uma vocação para abraçar um capricho meu. Só meu. E que estava sendo egoísta com o mundo em disperdiçar o meu tempo com uma escolha feita por impulso, que funcionava como uma emenda pro meu ego.

É, ele disse isso! E eu achei um absurdo. Achei ousadia demais. Achei um chato demais! 
Mas eu achei tudo isso, porque no fundo sabia que ele estava certo. Eu fiz uma escolha sem pensar em qual seria o futuro dela. Essa minha mania de viver de momento às vezes me atrapalha...

Confesso que desde aquela manhã de sábado, no salão de cabeleireiro, tenho pensado nas palavras daquele cara que não sabe nada sobre a minha vida e quase nada sobre mim. Mas entende de olhar. E se foi Deus, ou qualquer outra força maior que tenha colocado aquele bicudo na minha vida pra me dizer tudo aquilo, então eu respeito. Respeito e declaro aqui, nesse exato momento, a abolição da minha escolha, feita há 6 meses. 

P.S: Onde é que eu estava com a cabeça quando escolhi aquilo?! rs...
P.S 2: Sem perguntas. Não vou dizer que escolha foi essa. Já foi desescolhida. Calou.