Foi o lugar mais fresco que encontrei pra ficar naquela tarde considerada a mais quente do ano: a sala da Priscila!
A Priscila é uma colega de trabalho. Toda hippie. Uma graça de tão serena. Em cima da mesa dela havia uma capa de revista que me chamou a atenção. Tinha umas letras brancas bem grandes fazendo contraste com o fundo preto. A palavra em destaque? FELICIDADE!
Pelo menos para o meu momento, palavra mais sugestiva não há. Então, decidi folhear.
A matéria era extensa e muito técnica, embasada em estatísticas, filosofias freudianas e outras teorias mil. A leitura também era complexa, então decidi tirar as minhas próprias conclusões sobre um assunto tão abstrato.
Seria egoísmo e pretensão minha ditar a felicidade em achismo de primeira pessoa. Por outro lado, eu não estaria honrando as minhas brunisses, neste espaço tão meu – tão seu, tão nosso!
Portanto, deixei a modéstia de lado e antes de discorrer sobre a tal felicidade usando o sujeito eu, mergulhei nas minhas definições porque, acredite, eu ainda não tinha parado pra pensar nesse conceito meio Pão de Açúcar – que é lugar de gente feliz! rs...
Dias de sol. Cochilo depois do almoço. Lírios brancos. Sorvete de pistache. Samba na Lapa. Lembranças do almoço de domingo na casa da avó Eulália. Moda de viola com o meu pai. Dirigir ouvindo Nothing But a Song. A presença da tia Margarida. Ser lembrada por um amigo. Fazer amor onde der vontade. O cheiro da noite. Café no fim de tarde. Beijar com os olhos. Nascer do sol no Arpoador. Crise de riso no elevador. Fazer passinho anos 90 na balada. Mensagem inesperada no celular. Um jantar com alguém especial. Saber notícias de quem mora longe. Uma massagem na nuca. Um aumento. Carinho no cabelo. A lua. A praia. Um vestido novo. O carnaval. O abraço dos meus pais. Um temaki Filadélfia. As crianças do meu trabalho. Esquecer do tempo. Sentir o vento...
O colunista da matéria que me inspirou dizia que as pessoas mais felizes são aquelas que moram em lugares paradisíacos, mesmo que vivam de caça ou pesca, numa casinha sapê ou pau-a-pique. Sem conforto, sem Macintosh, LCD, massagem com pedras quentes, “MSC qualquer coisa” ou Louis Vuitton. Faz sentido!
A gente vive numa jornada alucinada de trabalho. Acorda às 6h, pega trânsito, bate cartão, enfrenta chefe, reuniões, execuções, início de projeto, conclusão de projeto, planejamento, novo projeto, não dá tempo, hora extra, pós, inglês... Tudo isso por alguns milzinhos na conta no final do mês. Sobra algum minuto pra ser feliz nessa rotina sufocante de obrigações?! Ou seria a felicidade um atributo de quem consegue encaixá-la em todas essas atribuições diárias que vêm sempre antes da conversa boa e cerveja gelada no boteco da esquina?!
Tarefa difícil definir felicidade. É estado de espírito?! É cognitiva?! É o prazer pelo momento?! Dá pra apalpar?!
Definitivamente não. Nem apalpar, nem definir com sinônimos. Ela é intangível e tem um poder estranhamente fictício sobre a gente. De onde será que ela vem?! Também surge no final do arco-íris?!
Depois de uns dias cinzas na minha vida, me determinei a ser feliz. A qualquer custo. Em qualquer situação. Independentemente do resto, apenas de mim. Deu certo.
Percebi então que a felicidade é a vontade de sorrir, de ser intensa na simplicidade. Felicidade é vontade. Do querer ou sem querer. Vontade que nasce de algum lugar que a gente desconhece ou do que a gente planta.
Sei que a maior parte dos seguidores deste blog é masculina, mas peço licença para definir, então, a felicidade como uma temporada de flores que a gente vive. Sim, flores!
Minha definição de felicidade é o processo do plantio que a gente escolhe colher a curto, médio ou longo prazo.
Não se vale exatamente do número de sementes plantadas, mas da qualidade do solo e dos botões que a gente permite vingar.
Um dia todas as flores murcham, mas não acabam. Existe uma infinidade de outras espécies a serem plantadas. O solo que um dia é germinado, se torna muito mais rico e fecundo. Se fortalece. E a opção de plantar outros e outros jardins é unicamente nossa!
Agora peço licença para regar o meu nessa tarde de domingo extremamente ensolarada, com velhos amigos e claro, o bom e velho sorvete de pistache!