terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Jones!

Não poderia ser diferente. O Jones merece mais do que um post no meu blog.
Jones é um garotinho gente boa lá de onde eu trabalho. Tem 7 anos. Tem psoríase e anda dizendo que está estressado.
Ganhou meu carinho, meu respeito e meu olhar. Há indícios de que tenha ganhado também o meu coração. Mas bah, sobre isso não quero falar!

O Jones ganhou uma pedrinha e um cartão, como reconhecimento de seu esforço e compromisso em não faltar um dia sequer no mês passado.
Essa pedrinha significou muito pra ele. Muito mais do que a gente imaginava.
Dia desses eu estava observando-o de longe, andando pra lá e pra cá com a pedrinha. O chamei e pedi pra ver a tal pedrinha. Eis que ele me manda a pérola:
- Tia, é a minha pedrinha da sorte. Qualquer pedido que eu fizer, vai realizar!
- Poxa, Jones! Tô precisando de uma dessas, então. Mas vamos combinar uma coisa?! Quando você fizer um pedido pra pedrinha, feche os olhinhos e e peça pro Papai do Céu também. Assim, é certeza que vai realizar!
E o Jones, por um minuto, pegou a pedrinha, a colocou perto do coração, fechou os olhos e aparentou faz um pedido. Indaguei-lhe, num misto de curiosidade e vontade de realizar.
- Jones, o que você pediu?!
- Pedi pra que na minha festa de aniversário, esteja toda a minha família!
- E onde está a sua família, Jones?!
- Não sei! (Com as mãozinhas gordinhas pelo ar)
No instante, me lembrei que o Jones é uma das crianças atendidas pelo abrigo municipal.
- Como é que você foi parar lá na sua casa?!
- Eu estava brincando na rua e o moço foi lá e perguntou se eu queria andar de carro. Aí eu fui e ele me levou lá em casa. (O abrigo)
- E aonde estava a sua mãe nessa hora que te deixou andar de carro com o moço?!
- Na praia. Ela foi lá buscar "o homem". Ela disse que ia lá na praia e voltava rapidinho, mas não voltou mais.
- E com quem você ficou esse tempo todo?!
- Com a minha irmã.
- Qual a idade dela?
- 9.
Aquela história toda, estava me embrulhando o estômago. Eu não sabia se o abraçava, se chorava, se continuava a invadir sua vida tão triste. Continuei:
- Jones, como vocês faziam pra comer enquanto a sua mãe estava na praia?!
- Comer?!
- É, comer! Vocês não comiam?!
- Nããããão!
...
- É Jones. A vida não é fácil. Não foi fácil pra você até aqui e, acredite, também não é pra mim.
- É, tá escrito aqui, quer ler?!
E me mostrou aquele cartãozinho que acompanhava a pedrinha, todo amassado. Ele leu. Não me lembro de quando criança ter lido qualquer cartão que acompanhasse meus presentes. Ele leu. Ele leu e entendeu o significado de cada palavra. Neste instante, chorei. Chorei por querer cuidar daquela criança, por não entender as razões daquela mãe e por achar o mundo tão injusto com alguém tão inocente.  
- Jones, então vamos combinar que sempre que você vai conversar com o Papai do Céu sempre que fizer um pedido pra sua pedrinha?!
- Tá. Vou pedir de novo, tia!
E por alguns instantes, fechou os olhinhos, novamente com a pedra perto do coração.
- Jones, o que você pediu agora?
- Que na minha festa de aniversário, esteja toda a minha família, de novo.
- E quando é o seu aniversário?!
- Dia 02/05.

Para quem não me conhece, é o meu dia também. Acho que quero o Jones pra mim.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog!!!!
    Uma delícia ler. Adoro blog.
    Vivo caçando os literários ou poéticos,
    os de moda e costume, de fotografia...
    os modernos e inteligentes.
    Acho que achei um bem temperadinho com
    humor e pimenta. O Jones já é pura delicadeza.
    Uma pena não ser ficção. Quero embalar o Jones.
    Estarei sempre por aqui experimentando esse tempero querida!

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